terça-feira, 24 de setembro de 2013

Canto da Leitura

Dividir a sala com os alunos maiores é um exercício de paciência.
Destroem tudo, não respeitam.....mexem, levam pra casa...enfim.

Em virtude disso tivemos que criar um cantinho da leitura "itinerante" ele sai e entra no armário todos os dias. Todos os dias dois alunos se envolvem na tarefa de colocar o mural no lugar e escolhem os livros que vão para os "bolsos" neste dia.
Assim todos se envolvem e os livros vão sempre mudando.

sábado, 1 de junho de 2013

PROJETO CARTAS E CARTA DA TERRA




BOM DIA !!

Aproveitando o projeto cartas, vou introduzir o texto lindo que tanto emociona educadores em todos os cantos do mundo.....a famosa carta da terra.
Existe uma versão para crianças que eu consegui baixar e vou conforme o projeto cartas avance, vou colocando partes da carta e debatendo com eles o que a carta da terra quer de nós e do mundo.

Abaixo os links com o formato feito para crianças !!! 





Conforme formos avançando coloco aqui as novidades !!!
























Primeira carta recebida pelos alunos !

Porto Alegre, 27 de Maio de 2013.



Bom Dia!!!



Oi! Tudo bem com você?
Sou a Professora Bárbara da Escola Alberto Torres.
Vamos começar nosso projeto “Escrevendo Cartas”?
Eu fui a primeira a surpreender você com uma carta!

Como é bom escrever e poder dizer coisas boas para quem lê o que escrevemos!

Já fizemos isso algumas vezes dentro da sala, mas nas cartas há um ingrediente a mais.... a surpresa!

Quem recebe a carta não sabe que vai receber!
Nem mesmo sabe o que está escrito na carta! E isso é muito legal!

Vamos começar a escrever nossas cartas e mandar muito carinho, amor, amizade e principalmente a nossa imensa alegria de surpreender quem nós gostamos!

Pense em quem você quer surpreender com uma carta, assim como eu surpreendi você e já escreva a sua carta, com muito carinho e alegria!!!


Beijos e nos vemos na aula!!!!!



Professora Bárbara Cristo

PROJETO CARTAS

PROJETO CARTAS

OBJETIVOS

  • Resgatar o hábito de escrever bilhetes, cartas, recados, como forma de estimular a escrita e a leitura através de mensagens positivas e de carinho entre a turma;

  • Dar oportunidade ao aluno de ampliar seu vocabulário, reconhecer que o que pensa, fala, sente, vê, ouve pode ser escrito para outro ler; 

  • Trabalhar os elementos importantes de uma comunicação escrita como a carta (remetente, texto e destinatário);

  • Formar uma “Corrente do Bem” com incentivo de mensagens de amizade, carinho, elogio, convites para estimular a boa convivência entre o grupo;

  • Valorizar as diferentes formas de registros usados pelos pequenos escritores: desenhos, palavra, frase, texto e colagem; 

  • Incentivar a expressão escrita dos alunos.


DESENVOLVIMENTO

  • Falar com os alunos sobre o PROJETO e incentivar a participação de todos;

  • Preparar uma comunicação para os pais incentivando a participação e informando sobre o projeto;

  • Escrita da carta da professora regente da turma para os alunos participantes, proporcionando o recebimento “surpresa” das cartas em casa;

  • Escrita de carta dos alunos para quem eles quiserem, sejam colegas, parentes, amigos, trabalhando com isso a questão do remetente e destinatário e informações necessárias, focar em cidades, CEP, estado;

  • Determinar um horário do dia para falar do projeto, começo ou fim da aula, para que os alunos possam ler as cartas recebidas partilhando com os colegas o conteúdo recebido;

  • Incentivar a participação de todos, mesmos os que têm dificuldade de leitura, lembrando que a mensagem pode ser através de desenho;


FINALIZAÇÃO

·        Criação de um cartaz coletivo sobre o projeto, o que foi feito durante o projeto e as impressões de todos;

·        Incentivar o envio de cartões de Natal e de Final de ano, para colegas, professores da escola e comunidade em geral como forma de extravasar sentimentos bons do que passamos durante o ano;


·        Incentivar o envio de mensagens e recadinho às pessoas que eles não têm contato direto todos os dias, mas contribuem para que eles estejam na escola, funcionários, parentes, etc.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Desafio novo em 2013

Oficialmente feita a exoneração de Viamão e agora funcionária pública em Porto Alegre !!

Mesmo apaixonada pela escola e pelos alunos que tive em 2012 em Viamão, não posso mentir que estar trabalhando do lado de casa e mais perto dos meus filhos está sendo muito bom !


quinta-feira, 19 de julho de 2012

Atividades Culturais, teatro e Feira Multidisciplinar








Aulas de educação física....um barato!
Trabalhos em grupos, de pesquisa.
Trabalhos de recorte e colagem em jornais.





domingo, 27 de maio de 2012





Dia das mães foi especial......conversas e uma apresentação linda....
Estamos entrando no conteúdo do Corpo Humano, músculos, esqueleto, etc.

Nada melhor do que um amigo pra entender a matéria, temos em aula o Estique, que virou uma febre na sala, ninguém mais falta a aula no seu dia de cuidar do Estique.....kkkkk




Ele anda por toda a escola com a criançada e eles adoram.....

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Atividades com a turma




Trabalhamos com a correção coletiva sempre e eles participam em peso da ida ao quadro.

Além disso, procuramos estar sempre brincando e aprendendo. Este mês fizemos um Pião com CD velhos, que antecipou o assunto do sistema solar e da orientação com a luz do sol.

A partir disso, fizemos um relógio do sol no pátio, os movimentos de rotação e translação !


Regras

Pra toda turma existe a necessidade de buscarmos a organização e o estabelecimento de regras de convivências essenciais.

Cada uma dessas simples regras abrangem tudo o que foi discutido em sala, com a participação de todos.

Índios



Para fugir um pouco dos assuntos tradicionais sobre os índios, foi feito uma pesquisa dos primeiros índios que estavam aqui no sul e foi localizadas três tribos importantes, Jê, Pampianos e Guaranis. 

Cada um com a sua cultura e os seus costumes.

Aqui no cartaz a turma dividida em três grandes grupos, colocou de forma simbólica, o que descobiu sobre cada grupo de índios. 

Adoramos fazer esse resgate !!!

Alimentação

Cada aluno trouxe de casa gravuras de alimentos, pedidos no dia anterior.
A classificação foi feita em sala e cada aluno devia achar onde o seu alimento se encaixava e o que ele representava na alimentação do nosso dia a dia.

Apesar de estar cheio o cartaz, sobrou gravuras, o que foi gratificante, pois a turma compra as atividades com uma vontade que empolga qualquer um!

Atividades Coletivas - Higiene


Construção Coletiva da Higiene Coletiva, onde foi discutido além da higiene pessoal a higiene do lugar onde vivemos.
A colagem foi de fotos de jornais e revistas de locais onde não há cuidados necessários com a higiene da comunidade.
Foi uma tarde  gostosa de muita conversa e construções coletivas.


Professora Municipal de Viamão

Depois de muitos concursos, fui nomeada e chamada para a cidade de Viamão.
Fui enviada para a escola Loureiro da Silva, na parada 28 da Lomba do Pinheiro e estou adorando.
Assumi o desafio de pegar um 4º ano e vamos botar em prática tudo o que foi aprendido e caminhar com essas crianças aprendendo muito ! Com certeza.

Os primeiros trabalhos colocarei aqui para dividir com todos.

E vamos nesse 2012 abençoado !!!!

domingo, 1 de abril de 2012

Linguagem e Brincadeira

Após algumas leituras obrigatórias dos concursos, gostaria de colocar resumidamente passagens que achei muito interessante ...

"A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial."(Bakhtin, 1981, p.95)

" O discurso verbal é diretamente ligada à vida em si e não pode ser divorciado dela sem perder sua significação. "

Para Vigotsky, o uso da linguagem se constitui na condição mais importante do desenvolvimento das estruturas psicológicas superiores ( a consciência) da criança.

Walter Benjamin (filósofo alemão, 1940) dia que são as imagens, construídas ao longo da nosa existência, por meio de uma memória involuntária e voluntária, uma conjunção de conteúdos do passado individual e outros do passado coletivo, que vão nos permitir formar uma idéia de nós, independentemente da nossa vontade. São essas sucessivas imagens as experiências que costumam, para cada um de nós, nossa identidade e história pessoal.

Por meio de brincadeiras as crianças se constituem como indivíduos, com um tipo de organização e funcionamenti psicológicos próprios, utilizando certos meios comportamentais extraídos de seu registro de competências, em cada período da vida, e das aquisições e midificações que sua microcultura impõe.

A brincadeira de faz de conta se constitui num exemplo de uma atividade na qual a criança poderia ser vista como se estivesse num mundo só seu, num mundo de fantasia.
Mas estudando em detalhes, tem revelado como as crianças estão enganjadas uma com as outras, constituindo e partilhando significados.

Segundo Vygotsky (1991) essa brincadeira de faz de conta caracteriza um avanço no desenvolvimento infantil.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

NOSSOS SEMPRE FILHOS: O segredo das mães francesas?

NOSSOS SEMPRE FILHOS: O segredo das mães francesas?: Paciência e pulso firme O segredo francês é esperar: o método não dá gratificações imediatas. Ele começa mais ou menos no nascimento. Qua...

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

blog.gecko: Luminária de colher

blog.gecko: Luminária de colher: Você fez uma festa em casa e agora sua pia está cheia de talhares de plástico? Não jogue as colheres fora! Com elas você pode, acredite, cri...

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Jovens Infratores

Lei abre brecha para internação de jovem infrator por tempo indeterminado


Apesar de artigo polêmico, Sinase regulamenta cumprimento de medidas socioeducativas no País e torna obrigatório o retorno do adolescente à escola
A presidenta Dilma Rousseff sancionou nessa quarta-feira (18) a Lei 12594/12, que institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) e entra em vigor daqui a 90 dias. Pela primeira vez, o Brasil terá uma lei nacional para a execução de medidas socioeducativas destinadas a crianças e adolescentes que pratiquem atos infracionais.

Apesar de ser comemorada por defensores de direitos humanos por regular o sistema, o artigo 65 da lei causa incômodo.
De acordo com o texto, a autoridade judiciária poderá interditar o adolescente em caso de transtorno mental. Deve-se “remeter cópia dos autos ao Ministério Público para eventual propositura de interdição e outras providências pertinentes
 
 
 

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Texto Manoel Soares no Facebook hoje 10/01/2012

Com sua delicadeza e objetividade Manoel conseguiu de forma transparente e simples descrever o que
acontece nas nossas periferias.
Abaixo o lindo texto publicado por ele no facebook hoje dia 10/01/2012.


Manoel Soares


Estes dias conversando com um líder comunitário vi que ele defendia os interesses da comunidade com muita habilidade, mas seu sustento vinha de ser flanelinha um uma avenida movimentada de Porto Alegre. Quando fui conversar com ele falei sobre a possibilidade ajudá-lo nessa luta, ele se empolgou e disse que as pessoas só prometem e na hora não se apresentam. Disse que ia ver com uma rede de colég...ios particulares que trabalham com EJA para que ele volte a estudar e depois possa fazer um técnico administrativo, nessa hora ele deu um pulo, disse que não queria voltar para escola e que tinha dificuldades de se enquadrar no sistema. Disse que ele falava errado, mas que isso era seu dialeto, disse que o que importava era sua mensagem e não se o português estava certo, no meio do papo vem a filha dele com a gorjeta dada por um motorista. Confesso a vocês que me vi naquele líder, há uns anos atrás eu pensava assim, achava que minha experiência de vida era mais importante que minha formação. O que muitos líderes não se dão conta com o tempo é que sem saber assinam um pacto de pobreza e miséria que só trás dor e tristeza para eles e suas famílias. Ter dinheiro não é errado nem feio, estudar e se formar não vai arrancar nossas raízes e se arrancar é porque não era raízes, mas galhos podres. Sei que muitos líderes mesmo sem estudo dão um banho em quem tem canudo, mas no fim das contas eles voltam para sua casa com ar condicionado e cama quentinha e nós para nossa casa com luz de gato e gás quase no fim. O estudo não limita nosso intelecto, mas limita nosso acesso a uma vida de qualidade, como líderes familiares ou comunitários não temos o direito de exilar as pessoas ao nosso lado na miséria por conta de nossa visão equivocada da vida. Ver amigos destemidos liderar massas é emocionante, mas cada vez que eles fala: "menas", "qui seji", "nois" sem que queiram emitem uma mensagem que enfraquece a luta, sei que doi ler isso, mas é verdade. Temos que nos superar todos os dias, até porque o que fizeram e fazem conosco é injusto, nos deram pouco acesso e exigem qualidade, é como cortar o pé de alguém e querer que ele corra, mas não podemos nos apegar as limitações, temos o dever de criar condições para que as gerações futuras saiam do ciclo de exclusão, mas para isso teremos que abandonar a lamúria e superar não algumas, mas todas dificuldades que aparecem. Conheço cada minuto dessa luta, sento o gosto de cada lágrima ao ouvir um NÃO, vivo isso até hoje, pois mesmo que de ouro o chicote doi igual, mas não uso minhas limitações para advogar em causa própria, meu filho não merece opuvir isso.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Celso Antunes - Palestra

Outra leitura para o concurso , muito bom.

Palestra "Novas maneiras de ensinar, novas formas de aprender" (Celso Antunes):


O professor no nosso país está com uma imagem desgastada e desvalorizada. Qualquer outro profissional se sente capaz de avaliar e até discutir sobre a função do professor. Mas o contrário não acontece; o professor tem consciência da sua limitação. Em outros países podemos perceber que o professor é um profissional que ocupa lugar de destaque na sociedade. No Japão, por exemplo, o único profissional que não precisa se curvar diante do imperador é o professor, pois segundo os japoneses, numa terra que não há professores não podem haver imperadores.

Mas por que no Brasil o professor não tem prestígio?

Segundo Celso Antunes, o professor para adquirir esse prestígio tem que acompanhar as mudanças que ocorrem num ritmo cada vez mais acelerado. Não podemos acreditar que ainda hoje nossa tarefa é apenas informar sobre os conhecimentos acumulados historicamente.

Hoje, a informação está em todo lugar e bem atualizada. Ou seja, a escola não é mais lugar privilegiado de informação. O papel do professor por esse motivo deve ser repensado.
Nesse sentido, há uma brutal diferença entre dar aula ontem e dar aula hoje.


Mas como mudar?

O autor apresenta cinco elementos que na sua opinião são fundamentais para mudar a educação brasileira e por conseqüência melhorar a imagem do professor:

1) A Aula: a aula deve ser o momento de usar a fala. Falar é uma ferramenta imprescindível para o aprender. Proibir o aluno de falar é impedir a sua aprendizagem. Porém, há duas falas diferentes no contexto escolar: a fala descontextualizada do aprender ( que não provoca o processo de aprendizagem) e a fala canalizada ( que organiza o aprender). Para chegar a uma fala canalizada com os alunos é necessário aprender novas formas de dar aula. Mesmo porque, professor não pode ser escravo de apenas um tipo de aula. Hoje, percebemos que muitos professores dão aulas expositivas nos 200 dias letivos. A aula pode ser expositiva, mas também pode ser através de projetos, seqüencias didáticas, roda da conversa, jogo de palavras, enfim, outras formas que possibilitem os alunos usarem a sua fala de forma organizada

2) O Conteúdo: os conteúdos são os ensinamentos que são passados aos alunos. O conteúdo não pode ser metálico e vazio. Devemos perceber-los como ferramentas capazes de desenvolver competências. O aluno tem que aprender a argumentar, a pensar, a ter idéia. O mundo está acontecendo e os conteúdos estão a margem desses acontecimentos. Por isso mesmo os conteúdos devem ter "cheiro, gosto, cor e alma". Só assim poderemos formar gente e não apenas intelectuais.

3) O Professor: o professor deve ser o propositor, o interrogador, o instigador, aquele que ajuda a aprender. Assim, ele deve levar para a sala de aula alguns pontos de exclamação, mas principalmente, muitos pontos de interrogação. Os alunos devem ser induzidos a pensar, a encontrar argumentos. É como diz o ditado popular: em vez de dar o peixe, devemos ensinar a pescar.

4) A Linguagem: alguns professores acreditam que o texto é a única forma de ensinar algo ao aluno. Mas a escola é um espaço propício para o convívio de diferentes linguagens. A música, a mímica, a dramatização, a colagem, o slogan, a escultura são apenas alguns exemplos de linguagens que podem estar presentes no dia-a-dia da escola.

5) A Avaliação: a proposta é olhar a avaliação como quem vê caminhos. É ter olhos para o amanhã, para o progresso. Avaliar apenas para dar uma nota não faz sentido algum.

O professor Celso Antunes finalizou a palestra com a seguinte frase: "quem na terra assumi novas formas de ensinar e aprender não precisa pedir licença no céu, pode ir entrando..."

Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro

Estou estudando pra concurso e alguns livros valem a pena ler, reler e guardar, com certeza !

Aqui, resumo do livro do Edgar Morin - Os Sete Saberes Necessários À Educação Do Futuro.
Disponível no link da postagem, Escrito por Conteúdoescola

22/07/2004
Em 1999, a UNESCO solicitou ao filósofo Edgar Morin - nascido na França, em 1921 e um dos maiores expoentes da cultura francesa no século XX - a sistematização de um conjunto de reflexões que servissem como ponto de partida para se repensar a educação do século XXI.

Os sete saberes indispensáveis enunciados por Morin, objeto do presente livro:
- as cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão;
- os princípios do conhecimento pertinente;
- ensinar a condição humana;
- ensinar a identidade terrena;
- enfrentar as incertezas;
- ensinar a compreensão;
- a ética do gênero humano
são eixos e, ao mesmo tempo, caminhos que se abrem a todos os que pensam e fazem educação e que estão preocupados com o futuro das crianças e adolescentes.
(...)

I - As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão
É impressionante que a educação que visa a transmitir conhecimentos seja cega ao que é conhecimento humano, seus dispositivos, enfermidades, dificuldades, tendências ao erro e à ilusão e não se preocupe em fazer conhecer o que é conhecer.
De fato, o conhecimento não pode ser considerado uma ferramenta "ready made", que pode ser utilizada sem que sua natureza seja examinada. Da mesma forma, o conhecimento do conhecimento deve aparecer como necessidade primeira, que serviria de preparação para enfrentar os riscos permanentes de erro e de ilusão, que não cessam de parasitar a mente humana. Trata-se de armar cada mente no combate vital rumo à lucidez.
É necessário introduzir e desenvolver na educação estudo das características cerebrais, mentais, culturais dos conhecimentos humanos, de seus processos e modalidades, das disposições tanto psíquicas quanto culturais que o conduzem ao erro ou à ilusão.
O calcanhar de Aquiles do conhecimento
A educação deve mostrar que não há conhecimento que não esteja, em algum grau, ameaçado pelo erro e pela ilusão. O conhecimento não é um espelho das coisas ou do mundo externo. Todas as percepções são, ao mesmo tempo, traduções e reconstruções cerebrais com base em estímulos ou sinais captados pelos sentidos. Resultam, daí, os inúmeros erros de percepção que nos vêm de nosso sentido mais confiável, a visão.
Ao erro da percepção acrescenta-se o erro intelectual
O conhecimento, como palavra, idéia, de teoria, é fruto de uma tradução/construção por meio da linguagem e do pensamento e, por conseguinte, está sujeito ao erro. O conhecimento comporta a interpretação, o que introduz o risco de erro na subjetividade do conhecedor, de sua visão de mundo e de seus princípios de conhecimento.
Daí os numerosos erros de concepção e de idéias que sobrevêm a despeito de nossos controles racionais. A projeção de nossos desejos ou de nossos medos e pás perturbações mentais trazidas por nossas emoções multiplicam os riscos de erro.
O desenvolvimento do conhecimento científico é poderoso meio de detecção de erros e de luta contra as ilusões. Entretanto, os paradigmas que controlam a ciência podem desenvolver ilusões, e nenhuma teoria científica está imune para sempre contra o erro. Além disso, o conhecimento científico não pode tratar sozinho dos problemas epistemológicos, filosóficos e éticos.
A educação deve se dedicar, por conseguinte, à identificação da origem de erros, ilusões e cegueiras.
Os erros podem ser mentais - pois nenhum dispositivo cerebral permite distinguir a alucinação da percepção, o sonho da vigília, o imaginário do real, o subjetivo do objetivo. A própria memória é fonte de erros inúmeros. Nossa mente tende, inconscientemente, a selecionar as lembranças convenientes e eliminar as desagradáveis. Há também falsas lembranças, fruto de pura ilusão.
Os erros podem ser intelectuais - pois os sistemas de idéias (teorias, doutrinas, ideologias) não apenas estão sujeitas ao erro, como protegem os erros possivelmente contidos em seu contexto.
Os erros da razão: a racionalidade é a melhor proteção contra o erro e a ilusão. Mas traz em seu seio uma possibilidade de erro e de ilusão quando se perverte, se transforma em racionalização. A racionalização, nutrindo-se das mesmas fontes da racionalidade, constitui grande fonte de erros e ilusões. A racionalidade não é uma qualidade de que são dotadas algumas pessoas - técnicos e cientistas - e outras não. A racionalidade também não é monopólio ou uma qualidade da civilização ocidental. Mesmo sociedades arcaicas podem apresentar elementos de racionalidade em seu funcionamento. Começamos a nos tornar verdadeiramente racionais quando reconhecemos a racionalização até em nossa racionalidade e reconhecemos os próprios mitos, entre os quais o mito de nossa razão toda-poderosa e do progresso garantido.
É necessário reconhecer, na educação do futuro, um princípio de incerteza racional: pois a racionalidade corre risco constante, caso não mantenha vigilante autocrítica quanto a cair na ilusão racionalizadora. E a verdadeira racionalidade deve ser não apenas teórica e crítica, mas também autocrítica.
Os erros paradigmáticos - os modelos explicativos - os paradigmas - também são sujeitos a erros - de concepção e de interpretação de conceitos. O paradigma cartesiano, por exemplo - mola mestra do desenvolvimento científico e cultural do Ocidente - se fundamenta em contrastes binários: sujeito/objeto, alma/corpo, espírito/matéria, qualidade/quantidade, sentimento/razão, existência/essência, certo/errado, bonito/feio, etc. - não encontram, no mundo de hoje, a fundamentação que parecia possuir no início do século XX. O paradigma - como o cartesiano - mostra alguma coisa e esconde outras - podendo, portanto, elucidar e cegar, revelar e ocultar. É no seu seio que se esconde o problema -chave do jogo da verdade e do erro.

O "imprinting" e a normalização
"Imprinting" é o termo proposto por Konrad Lorenz para dar conta da marca indelével imposta pelas primeiras experiências do animal recém nascido. O 'imprinting" cultural marca os humanos desde o nascimento, primeiro com o elo da cultura familiar; depois da cultura da escola, prosseguindo pela universidade e na vida profissional.
A normalização - forma de estandartização das consciências - é um processo social (conformismo) que elimina o poder da pessoa humana de contestar o "imprinting".
A noologia: possessão
O autor cita Marx, ao dizer "os produtos do cérebro humano têm o aspecto de seres independentes, dotados de corpos particulares em comunicação com os humanos e entre si". Edgar Morin está se referindo às crenças e idéias - muitas vezes reificadas, corporificadas, a ponto de afirmar que "as crenças e idéias não são somente produtos da mente, mas também seres mentais que têm vida e poder; e assim, podem possuir-nos". O homem, na visão do autor, é prisioneiro, por vezes, de suas crenças e idéias, nos dias de hoje, assim como o foi, anteriormente, prisioneiro dos mitos e superstições.
O inesperado
O inesperado, no dizer de Morin, "surpreende-nos"; nós nos acostumamos de maneira segura com nossas teorias, crenças e idéias, sem deixar lugar para o acolher o "novo". Entretanto, o 'novo" brota sem parar...
Quando o inesperado se manifesta, é preciso ser capaz de rever nossas teorias e idéias, em vez de deixar o fato novo entrar à força num ambiente (ou instância, ou teoria) incapaz de recebê-lo.
A incerteza do conhecimento
É preciso destacar, em qualquer educação, as grandes interrogações sobre nossas possibilidades de conhecer. Pôr em prática as interrogações constitui o oxigênio de qualquer proposta de conhecimento. E o conhecimento permanece como uma aventura para a qual a educação deve fornecer o apoio indispensável.

II - Os princípios do conhecimento pertinente
Existe um problema capital, sempre ignorado, que é o da necessidade de promover o conhecimento capaz de aprender problemas globais e fundamentais para neles inserir os conhecimentos parciais e locais.
A supremacia do conhecimento fragmentado de acordo com as disciplinas impede freqüentemente de operar o vínculo entre as partes e a totalidade, e deve ser substituída por um modo de conhecimento capaz de apreener os objetos em seu contexto, sua complexidade, seu conjunto.
É necessário desenvolver a aptidão natural do espírito humano para situar todas essas informações em um contexto e um conjunto. É preciso ensinar os métodos que permitam estabelecer as relações mútuas e as influências recíprocas entre as partes e o todo em um mundo complexo.
Da pertinência no conhecimento
A pertinência do mundo enquanto mundo é uma necessidade, ao mesmo tempo, intelectual e vital.
É o problema universal de todo cidadão do novo milênio: como ter acesso às informações e organizá-las? Como perceber e conceber o Contexto, o Global (relação todo/partes) o Multidimensional, o Complexo?
Para articular e organizar os conhecimentos e, assim, reconhecer e conhecer os problemas do mundo, é necessária a reforma do pensamento. Entretanto, essa reforma não é programática, mais sim, paradigmática - é questão fundamental da educação, já que se refere à nossa aptidão para organizar o conhecimento.
Esse é o grande problema a ser enfrentado pela educação do futuro - tornar evidentes:
- o contexto: o conhecimento das informações ou dados isolados é insuficiente; é preciso situar as informações e dados em seu contexto para que adquiram sentido;
- o global (relação todo/partes); é mais que o contexto, é o conjunto das diversas partes ligadas a ele de modo inter-retroativo ou organizacional; assim, uma sociedade é mais que um contexto: é o todo organizador de que fazemos parte;
- o multidimensional: sociedades ou seres humanos são unidades complexas, multidimensionais; assim, o ser humano é, ao mesmo tempo, biológico, psíquico, afetivo, social, racional; a sociedade comporta dimensões histórica, econômica, sociológica, religiosas; o conhecimento pertinente deve reconhecer esse caráter multidimensional e nesse inserir todos os dados a ele pertinentes.
- O complexo: há complexidade quando elementos diferentes são inseparáveis constitutivos do todo e há um tecido independente, interativo e inter-retroativo entre o objeto de conhecimento e seu contexto, partes e todo, todo e partes, partes em si; assim, complexidade é a união entre unidade e multiplicidade.
A inteligência geral
O desenvolvimento de aptidões gerais da mente permite melhor desenvolvimento das competências particulares ou especializadas.
Quanto mais poderosa é a inteligência geral, maior é sua faculdade para tratar de problemas especiais. A compreensão de dados particulares também necessita da ativação da inteligência geral, que opera e organiza a mobilização dos conhecimentos de conjunto de cada caso particular.
A educação deve favorecer a aptidão natural da mente em formular e problemas essenciais e, de forma correlata, estimular o uso total da inteligência geral. Este uso total pede o livre exercício da curiosidade, a faculdade mais expandida e a mais viva durante a infância e a adolescência, que com freqüência a instrução extingue e que, ao contrário, se trata de estimular, caso esteja adormecida, despertar.
A educação do futuro, em sua missão de promover a inteligência geral dos indivíduos, deve ao mesmo tempo utilizar os conhecimentos existentes, superar as antinomias decorrentes do progresso nos conhecimentos especializados e identificar a falsa racionalidade.
A antinomia - para Morin, nos dias atuais, os sistemas de ensino portam antinomias - contradições - criando e alimentando disjunções entre as ciências e as humanidades, assim como a separação das ciências em disciplinas hiperespecializadas, fechadas em si mesmas. Os problemas fundamentais da humanidade e os problemas globais estão ausentes das ciências disciplinares; o enfraquecimento da percepção global conduz ao enfraquecimento da responsabilidade (cada um passa a responder somente por sua tarefa especializada), assim como ao enfraquecimento da solidariedade (as pessoas não sentem mais os vínculos com seus concidadãos).
Os problemas essenciais
Disjunção e especialização fechada - hiper-especialização impede tanto a percepção do global (que ela fragmenta em parcelas) quanto do essencial (que ela dissolve).
Redução e disjunção - o princípio da redução (limitar o conhecimento do todo ao conhecimento de suas partes) leva naturalmente a restringir o complexo ao simples. Aplica às complexidades vivas e humanas a lógica mecânica e determinista da máquina artificial. Como nossa educação sempre nos ensinou a separar, compartimentar, isolar, e não unir os conhecimentos, o conjunto deles constitui um quebra-cabeças ininteligível.
A inteligência compartimentada, parcelada, mecanicista, reducionista, enfim - disjuntiva - rompe o complexo do mundo em fragmentos disjuntos, fraciona os problemas, separa o que está unido, torna unidimensional o multidimensional. É uma inteligência míope que acaba por ser normalmente cega. Reduz as possibilidades de julgamento corretivo ou da visão a longo prazo. Assim, quanto mais a crise progride, mais progride a incapacidade de pensar a crise; quanto mais os problemas se tornam multidimensionais, maior a incapacidade de pensar sua multidimensionalidade; quanto mais os problemas se tornam planetários, mais eles se tornam impensáveis.
A falsa racionalidade - ou seja, a racionalização abstrata, triunfa hoje em dia, por toda a parte, na forma do pensamento tecnocrático - incapaz de compreender o vivo e o humano aos quais se aplica, acreditando-se ser o único racional. O século XX viveu sob o domínio da pseudo-racionalidade que presumia ser a única racionalidade, mas atrofiou a compreensão, a reflexão e a visa em longo prazo. Sua insuficiência para lidar com os problemas mais graves constituiu um dos mais graves problemas para a humanidade. Daí, o paradoxo: o século XX produziu avanços gigantescos em todas as áreas do conhecimento científico, assim como no campo da técnica. Ao mesmo tempo, produziu nova cegueira para os problemas globais, fundamentais e complexos, gerando inúmeros erros e ilusões.
III - Ensinar a condição humana
O ser humano é a um só tempo, físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico. Esta unidade complexa na natureza humana é totalmente desintegrada na educação por meio das disciplinas, tendo-se tornado impossível aprender o que significa ser humano. É preciso restaurá-la, de modo que cada um, onde quer que se encontre, tome conhecimento e consciência, ao mesmo tempo, de sua identidade complexa e de sua identidade comum a todos os outros humanos.
Desse modo, a condição humana deveria ser o objeto essencial de todo o ensino. É possível, como base nas disciplinas atuais, reconhecer a unidade e a complexidade humanas, reunindo e organizando conhecimentos dispersos nas ciências da natureza, nas ciências humanas, na literatura e na filosofia, pondo em evidência o elo indissolúvel entre a unidade e a diversidade de tudo que é humano.
Enraizamento/desenvolvimento do ser humano
A educação do futuro deverá ser o ensino primeiro e universal, centrado na condição humana. Conhecer o humano é, antes de mais nada, situá-lo no universo, e não separa-lo dele. Todo o conhecimento deve contextualizar seu objeto para ser pertinente; "quem somos?" é inseparável de "onde estamos", "de onde viemos', para "para onde vamos?". Interrogar nossa condição humana implica questionar nossa posição no mundo. Para a educação do futuro, é necessário promover grande remembramento (consolidação) dos conhecimentos oriundos das ciências naturais, a fim de situar a condição humana no mundo, dos conhecimentos derivados das ciências humanas para colocar em evidência a multidimensionalidade e a complexidade humanas.
O humano do humano
O homem é um ser a um só tempo plenamente biológico e plenamente cultural, que traz em si a unidualidade originária. É super e hipervivente: desenvolveu de modo surpreendente as potencialidades da vida. Exprime de maneira hipertrofiada as qualidades egocêntricas e altruístas do indivíduo, alcança paroxismos de vida em êxtases e na embriagues, ferve de ardores orgiásticos e orgásmicos e é nessa hipervitalidade que o "Homo Sapiens" é também "Homo Demens".
O homem e o humano se encontram anelados a três circuitos fundamentais para sua vida enquanto ser e enquanto pessoa:
- o circuito cérebro/mente/cultura;
- o circuito razão/afeto/pulsão; e
- o circuito indivíduo/sociedade/espécie.
Todo desenvolvimento verdadeiramente humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e do sentimento de pertencer à espécie humana.

"Unitas multiplex": unidade e diversidade humana
Há uma unidade humana; e há uma diversidade humana. A unidade não está apenas nos traços biológicos da espécie; a diversidade não está apenas nos traços psicológicos, culturais e sociais. Existem outras unidade e diversidades perfilhando as características do ser humano em "ser humano".
Cabe à educação do futuro cuidar para que a idéia de unidade da espécie humana não apague a idéia de diversidade e que a diversidade não apague a unidade. A educação deverá ilustrar este princípio de unidade/diversidade em todas as esferas do conhecimento.
IV - Ensinar a identidade terrena
O destino planetário do gênero humano é outra realidade até agora ignorada pela educação. O conhecimento dos desenvolvimentos da era planetária, que tendem a crescer no século XXI, e o reconhecimento da identidade terrena, que se tornará cada vez mais indispensável a cada um e a todos, devem converter-se em um dos principais objetos da educação.
Convém ensinar a história da era planetária, que se inicia com o estabelecimento da comunicação entre todos os continentes no século XVI, e mostrar como todas as partes do mundo se tornaram solidárias, sem, contudo, ocultar as opressões e a dominação que devastaram a humanidade e que ainda não desapareceram. Será preciso indicar o complexo de crise planetária que marca o século XX, mostrando que todos os seres humanos, confrontados de agora em diante aos mesmos problemas de vida e de morte, partilham um destino comum.
A contribuição das contracorrentes
O século XX deixou como herança contracorrentes regeneradoras. Freqüentemente, na história, contracorrentes suscitadas em reação ás correntes dominantes podem se desenvolver e mudar o curso dos acontecimentos. Devemos considerar, como movimentos importantes e atuantes:
- a contracorrente ecológica que, com o crescimento das degradações e o surgimento de catástrofes técnicas/industriais, só tende a aumentar;
- a contracorrente qualitativa que, em reação à invasão do quantitativo e da uniformização generalizada, se apega à qualidade em todos os campos, a começar pela qualidade de vida;
- a contracorrente da resistência à vida prosaica puramente utilitária, que se manifesta pela busca da vida poética, dedicada ao amor, à admiração, à paixão, à festa;
- a contracorrente de resistência à primazia do consumo padronizado, que se manifesta de duas maneiras opostas: uma, pela busca da intensidade vivida (consumismo); a outra, pela busca da frugalidade e temperança (minimalismo);
- a contracorrente, ainda tímida, de emancipação em relação à tirania onipresente do dinheiro, que se busca contrabalançar por relações humanas e solidárias, fazendo retroceder o reino do lucro;
- a contracorrente, também tímida, que, em reação ao desencadeamento da violência, nutre éticas de pacificação das almas e das mentes.

V - Enfrentar as incertezas
As ciências permitiram que adquiríssemos muitas certezas, mas igualmente revelaram, ao longo do século XX, inúmeras zonas de incerteza. A educação deveria incluir o ensino das incertezas que surgiram nas ciências físicas (microfísica, termodinâmica, cosmologia), nas ciências da evolução biológica e nas ciências históricas.
Será preciso ensinar princípios de estratégia que permitiriam enfrentar os imprevistos, o inesperado e a incerteza, e modificar seu desenvolvimento em virtude das informações adquiridas ao longo do tempo. É preciso aprender a navegar em um oceano de incertezas em meio a arquipélagos de certeza.
A fórmula do poeta grego Eurípedes, que data de vinte e cinco séculos, nunca foi tão atual: "O esperado não se cumpre, e ao inesperado um deus abre o caminho". O abandono das concepções deterministas da história humana que acreditavam poder predizer nosso futuro, o estudo dos grandes acontecimentos e desastres de nosso século, todos inesperados, o caráter doravante desconhecido da aventura humana devem-nos incitar a preparar as mentes para esperar o inesperado, para enfrenta-lo. É necessário que todos os que se ocupam da educação constituam a vanguarda ante a incerteza de nossos tempos.

VI - Ensinar a compreensão
A compreensão é a um só tempo meio e fim da comunicação humana. Entretanto, a educação para a compreensão está ausente no ensino. O planeta necessita, em todos os sentidos, de compreensão mútua. Considerando a importância da educação para a compreensão, em todos os níveis educativos e em todas as idades, o desenvolvimento da compreensão pede a reforma das mentalidades. Esta deve ser a obra para a educação do futuro.
A compreensão mútua entre os seres humanos, quer próximos, quer estranhos, é daqui para a frente vital para que as relações humanas saiam de seu estado bárbaro de incompreensão. Daí decorre a necessidade de estudar a incompreensão a partir de suas raízes, suas modalidades e seus efeitos. Este estudo é tanto mais necessário porque enfocaria não os sintomas, mas as causas do racismo, da xenofobia, do desprezo. Constituiria, ao mesmo tempo, uma das bases mais seguras da educação para a paz, à qual estamos ligados por essência e vocação.
As duas compreensões
Há duas formas de compreensão: a compreensão intelectual ou objetiva e a compreensão humana intersubjetiva. Compreender significa intelectualmente apreender em conjunto, comprehendere, abraçar junto (o texto e o seu contexto, as partes e o todo, o múltiplo e o uno). A compreensão intelectual passa pela inteligibilidade e pela explicação. Explicar é considerar o que é preciso conhecer como objeto e aplicar-lhe todos os meios objetivos de conhecimento. A explicação é, bem entendido, necessária para a compreensão intelectual ou objetiva.
Mas a compreensão humana vai além da explicação. A explicação é bastante para a compreensão intelectual ou objetiva das coisas anônimas ou materiais. A compreensão humana comporta um conhecimento de sujeito a sujeito. Por conseguinte, se vemos uma criança chorando, nós a compreendemos, não pelo grau de salinidade de suas lágrimas, mas por buscar em nós mesmos nossas aflições infantis, identificando-a conosco e identificando com ela. Compreender inclui, necessariamente, um processo de empatia, de identificação e de projeção. Sempre intersubjetiva, a compreensão pede abertura, simpatia e generosidade.
Educação para os obstáculos à compreensão
Há múltiplos obstáculos exteriores à compreensão intelectual:
- o "ruído" que interfere na transmissão da informação, criando o mal-entendido e ou não-entendido;
- a polissemia de uma noção que, enunciada em um sentido, é entendida de outra forma;
- há a ignorância dos ritos e costumes do outro, especialmente os ritos de cortesia, o que pode levar a se ofender inconscientemente ou desqualificar a si mesmo perante o outro (diversidade cultural);
- existe a incompreensão dos valores imperativos propagados no seio de outra cultura - respeito aos idosos, crenças religiosas, obediência incondicional das crianças, ou, ao contrário, em nossa sociedade, o culto ao indivíduo e o respeito às liberdades;
- há a incompreensão dos imperativos éticos próprios a uma cultura, o imperativo da vingança nas sociedades tribais, o imperativo da lei nas sociedades evoluídas;
- existe a impossibilidade, enquanto visão de mundo, de compreender as idéias e os argumentos de outra visão de mundo, assim como uma ideologia/filosofia compreender outra ideologia/filosofia;
- existe, enfim, a impossibilidade de compreensão de uma estrutura mental em relação a outra.

A ética da compreensão
É a arte de viver que nos demanda, em primeiro lugar, compreender de modo desinteressado. Demanda grande esforço, pois não pode esperar nenhuma reciprocidade: aquele que é ameaçado de morte por um fanático compreende porque o fanático quer mata-lo, sabendo que este jamais o compreenderá. A ética da compreensão pede que compreenda a incompreensão.

 VII - A ética do gênero humano
l camino se hace al andar" (Antonio Machado)
 A educação deve conduzir à "antropo-ética", levando em conta o caráter ternário da condição humana, que é ser ao mesmo tempo indivíduo/sociedade/espécie. Nesse sentido, a ética indivíduo/espécie necessita do controle mútuo da sociedade pelo indivíduo e do indivíduo pela sociedade, ou seja, a democracia; a ética indivíduo/espécie convoca, ao século XXI, a cidadania terrestre.
 A ética não poderia ser ensinada por meio de lições de moral. Deve formar-se nas mentes com base na consciência de que o humano é, ao mesmo tempo, indivíduo, parte da sociedade, parte da espécie. Carregamos em nós esta tripla realidade. Desse modo, todo desenvolvimento verdadeiramente humano deve compreender o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e da consciência de pertencer à espécie humana.
 Partindo disso, esboçam-se duas grandes finalidades ético-políticas do novo milênio: estabelecer uma relação de controle mútuo entre a sociedade e os indivíduos pela democracia e conceber a Humanidade como comunidade planetária. A educação deve contribuir não somente para a tomada de consciência de nossa "Terra-Pátria", mas também permitir que esta consciência se traduza em vontade de realizar a cidadania terrena.
Não possuímos as chaves que abririam as portas de um futuro melhor. Não conhecemos o caminho traçado. Podemos, porém, explicitar nossas finalidades: a busca da hominização na humanização, pelo acesso à cidadania terrena.

Última atualização em 04/07/2011

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Educação Especial

Não há satisfação maior para um estudante do que a realização do seu TCC.

Já passei por isso na faculdade e agora foi o pós de educação inclusiva, e só quem passou por isso entende o orgulho de finalmente receber o retorno do professor com um comentário positivo.

E olhando para trás na minha vida estudantil, fica difícil lembrar de situações de criação de trabalhos ou pesquisas como a que fazemos no TCC, e é incrível que eu me dei conta que meus trabalhos escolares foram pautados na cópia. Pesquisa e cópia.

Trabalhos em que precisei pesquisar, pensar, mostrar minha opinião e a minha bagagem pessoal, só na faculdade. E olha que fiz dois cursos no médio, Magistério e Contabilidade.

Hoje agradeço a oportunidade de ter feito o magistério e não ter atuado na área; ter voltado para a minha vocação depois da faculdade, fui melhor professora do que poderia ter sido, com certeza.

Para complementar o meu texto simples, palavras de Terezinha Azeredo Rios:

Nas palavras de Rios a melhor qualidade para o ensino é criar condições para a formação de alguém que sabe ler, escrever e contar. “Ler não apenas as cartilhas, mas os sinais do mundo, a cultura de seu tempo. Escrever não apenas nos cadernos, mas no contexto de que participa, deixando seus sinais, seus símbolos. Contar não apenas números, mas sua história, espalhar sua palavra, falar de si e dos outros.
Contar e cantar – nas expressões artísticas, nas manifestações religiosas, nas múltiplas e diversificadas investigações científicas”.


bjus !!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Jogos Matemáticos Educação Infantil / Séries Iniciais

Muitas vezes meus alunos são questinados do que eles fazem nas oficinas do mais educação. Há quem pergunte: _ Mas vocês só jogam? Só brincam?

Abaixo alguns exemplos de atividades simples, com baralhos de cartas, que rendem muitas s aprendizagens. Sim, eles jogam, sim eles brincam e SIM ELES APRENDEM.

A dificuldade muitas vezes é convencer eles a aprender um jogo novo, pois depois que gostam querem jogar o mesmo sempre!!!


1 = A MAIOR VENCE
Organização: Começa em duplas e depois eles podem jogar em grupo
Recursos: baralho de cartas, sem as figuras e coringas (40 cartas)
Meta: Conseguir a maior quantidade de cartas no final
Regras:
1. Distribuir as cartas aos jogadores em número igual
2. Sem olhar cada jogador forma uma pilha na sua frente com as cartas
3. A um sinal, os dois viram as primeiras cartas; quem virar a maior leva as duas
4. O jogo acaba quando o monte terminar, quem tiver o número maior de cartas será o vencedor
Atividades pós jogo:
1. Pedir que os alunos façam um desenho sobre o jogo, colocando os resultados
2. Escrevam um texto sobre como foi o jogo, regras, erros, acertos e o que aprendeu.
3. Pedir que façam um cartaz sobre o jogo para que outros colegas ao ler saibam como jogar
4. Fazer uma tabela para acompanhar e colocar os resultados, abaixo exemplo:

Rodada = João = Pedro =  Maior número  = Ganhador
1º = 5 =  8 =  8 = Pedro
2º = 3 =  5 =  5 = Pedro
3º = 7 =  1 =  7 =  João
Total  = - =  - =  -  = Pedro
Variante: Criar 40 cartas numeradas de 11 a 50. Na criação das tabelas, propor a soma dos resultados.


2 = FAÇA 10
Organização: Grupo de dois, três ou quatro jogadores
Recursos: baralho de cartas, sem os 10, figuras e coringas (36 cartas)
Meta: Conseguir a maior quantidade de cartas no final
Regras:
1. Distribuir as cartas aos jogadores em número igual
2. Sem olhar cada jogador forma uma pilha na sua frente com as cartas
3. A um sinal, viram as primeiras cartas e colocam na mesa, os jogadores tentam completar um total de 10 com uma ou mais cartas estiver sobre a mesa, quem conseguir leva as cartas que somarem 10
4. O jogo acaba quando terminar as cartas ou mais nenhum 10 puder ser formado, quem tiver o número maior de cartas será o vencedor
Atividades pós jogo:
1. Escrevam um texto sobre como foi o jogo, regras, erros, acertos e o que aprendeu.
2. Pedir que façam um cartaz sobre o jogo para que outros colegas ao ler saibam como jogar
3. Fazer uma tabela para acompanhar e colocar os resultados.
Variante: Criar cartas numeradas de 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 para formar 100; ou numeradas de 100, 200, 300, 400, 500, 600, 700, 800, 900 para formar 1.000.


3 = UM A MAIS, UM A MENOS, DEZ A MAIS, DEZ A MENOS
Organização: grupo de quatro jogadores
Recursos: um tabuleiro quadriculado com 100 espaços vazios e 100 fichas do tamanho das quadrículas do tabuleiro, numeradas de 1 a 100. Um tabuleiro com os números preenchidos para servir de modelo.
Meta: Ser o primeiro a colocar todas as fichas no tabuleiro
Regras:
1. Distribuir 8 fichas pra cada jogador, as restante ficam na mesa num monte
2. Sem olhar cada jogador pega uma ficha do monte e coloca no tabuleiro
3. A partir dessa ficha apenas poderá colocar uma ficha, uma a mais ou uma a menos, cfe tabela abaixo:

     12

21 22 23

     32

4. Caso na sua vez o jogador não consiga nenhuma das 4 cartas que pode colocar em volta da sua, ele pega a carta no monte, mas passa a vez, até todos jogarem.
5. Ganha quem acabar primeiro ou montar a maior quantidade de números no tabuleiro

Atividades pós jogo:
1. Distribuir tabelas incompletas para que os alunos preencham com os números faltantes
2. Distribuir tabelas preenchidas com erros e pedir que os alunos achem onde está o erro
3. Ditado de números em que conforme o que o professor fala eles devem ir marcando os números com um X

1     2   3    4  5   6        8    9

11 12       14 15 16 17 18 19 20

      22 23 24 25 26 27 28       30

31 32 33 34       36 37 38 39 40

41      43 44 45 46 47       49 50



4 = JOGO DAS TRÊS CARTAS
Organização: grupos de quatro jogadores
Recursos: Cartas numeradas de 0 a 9 , num total de três com cada algarismo, para cada grupo. (três baralhos)
Meta: Conseguir marcar o maior número de pontos ao final de 10 jogadas.
Regras:
1. Cada componente recebe três cartas e deve formar o maior número com as cartas recebidas, se recebeu as cartas 0, 3 e 9, o maior número s ser formado será 930.
2. Depois, cada componente confere os números formados pelos companheiros do grupo e quem formar o maior número ganha um ponto na rodada.
3. No final das 10 jogadas quem tiver formado os maiores números ganha
Variantes:
1. Pode-se a cada rodada mudar as regras, formar números pares, impares, menor número possível, etc


5 = CUBRA E DESCUBRA
Organização: em duplas
Recursos: Tabuleiro, 22 fichas ( 11 de cada cor) e 2 dados
Meta: conseguir tirar todas as fichas do seu lado do tabuleiro
Regras:
1. Cada jogador coloca todas as suas fichas no seu lado do tabuleiro, de modo a cobrir todos os números que nele aparecem.
2. Na sua vez, cada jogador, lança dois dados, adiciona os pontos que saírem nos dados e tira do tabuleiro a ficha que cobre a soma.
3. Quem erra a soma, ou tirar a ficha, perde a vez
4. O vencedor será aquele que primeiro tirar todas as fichas do seu lado do tabuleiro

2 ------ 12
3 ------- 11
4 --------10
5--------- 9
6 ---------8
7 ---------7
8 ---------6
9 ---------5
10 --------4
11 --------3
12 --------2

Variantes:
5. Pode-se criar uma tabela para acompanhar as somas dos jogadores e ver as outras possibilidades após o jogo:

2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

1+1 1+2 1+3 1+4 1+5 1+6 4+4 3+6 4+6 5+6 6+6

2+1 3+1 4+1 5+1 6+1 3+5 6+3 6+4 6+5

2+2 2+3 3+3 4+3 5+3 4+5 5+5

3+2 2+4 3+4 2+6 5+4

4+2 2+5 6+2

5+2


6 = JOGO DA BORBOLETA
Organização: grupos de quatro jogadores
Recursos: Cartas de baralho com exceção das letras
Meta: Conseguir formar o maior número possível de conjuntos de cartas com a soma.
Regras:
1. Cada componente recebe três cartas que devem ficar viradas para cima à sua frente durante a partida
2. Outras sete cartas serão colocadas com a fae para cima na mesa.
3. Na sua vez o jogador deve somar suas três carta e pegar da mesa uma quantidade de cartas para formar a mesma some, exemplo: se ele tem as cartas 3, 7 e 5 soma 15, e na mesa tem as cartas 3, 4, 5, 10, 9, 7, ele poderá pegar as cartas 10 e 5 ou as cartas 7, 3, 5, que fecham 15 se somadas
4. Quando não conseguir formar mais somas deve passar a vez
5. Ao final do jogo quem tiver mais conjuntos de cartas será o vencedor

Variantes:
1. Pode-se pedir que os alunos copiem as somam e vejam se o jogador não deixou de fazer a soma com mais cartas
2. Pode-se variar o final da soma, 20, 30, 50, usando mais cartas



7 = ADIVINHE A MULTIPLICAÇÃO
Organização: Em trios
Recursos: Cartas de baralho, com exceção das letras
Meta: Conseguir juntar o maior número de pares possível
Regras:
1. Dois jogadores ficam frente a frente e no meio um será o juiz
2. Ao sinal do juiz os dois jogadores pegam duas cartas sem ver e mostram para o adversário
3. O juiz fará a multiplicação das duas cartas e dará o resultado, exemplo 2 e 3 ele dirá 6.
4. Os dois jogadores têm que adivinhar quais são as suas cartas, se acertarem levam as duas

Variantes:
1. Pode-se começar com a soma e depois introduzir a multiplicação

8 = DEZ PONTOS
Organização: Duplas
Recursos: Dois dados e uma folha para registro
Meta: Marcar o maior número de pontos ao final de 10 lançamentos
Regras:
1. Cada participante começa com 10 pontos.
2. Cada vez que jogar os dados ao obter a soma de 7, o adversário transfere 3 pontos para ele
3. Cada vez que o jogador obter soma diferente de 7 ele transfere 1 ponto para o adversário.
4. O resultado de cada lançamento deve ser feito numa folha de registro

Variantes:
1. Pode-se a trocar o valor total da soma

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Projeto de Lei promove a volta do respeito nas escolas.

Li recentemente uma reportagem sobre esse movimento e na net consegui informações precisas.
Neste blog tem o artigo da lei 267/11 da deputada Cida Borghetti (PP-PR), ela mantem um site http://www.cidaborghetti.com.br/ em que há informação desse e de outros projetos.

Não faço indicação de partido , nem de políticos, mas para os professores essa lei é muito importante, pois pode abrir um precedente favorável para todos, ou um bom debate sobre o tema.

http://www.blogfalandofrancamente.com/2011/04/camara-analisa-projeto-de-lei-que-pune.html

sábado, 29 de outubro de 2011

O sociólogo na sala de aula



Em entrevista concedida à Revista Brasileira de Educação em setembro de 1996, durante breve
estada no Brasil, o sociólogo François Dubet reflete sobre a sua experiência de um ano como professor
de história e geografia em um colégio da periferia de Bordeaux, França. Conhecido por suas pesquisas
sobre a juventude marginalizada na França, François Dubet quis vivenciar, diretamente como professor,
os dilemas da escola francesa contemporânea.
François Dubet é pesquisador do Centre d’Analyse et d’Intervention Sociologiques (CNRS - École
des Hautes Études en Sciences Sociales), professor titular e chefe do departamento de sociologia da
Universidade de Bordeaux II e membro senior do Institute Universitaire de France. É autor de mais
de uma dezena de livros, entre os quais:
Paris: Seuil, 1991;
Sociologie de l’experience. Paris: Seuil, 1994 (Edição portuguesa: Lisboa, Instituto Piaget, 1997) e A l’école. (com Danilo Martucelli) Paris: Seuil, 1966.

Por quê, enquanto pesquisador, você escolheu lecionar por um ano em um colégio?

Eu quis ensinar durante um ano por duas razões um pouco diferentes.
A primeira é que nos meus encontros, coletivos ou individuais, com professores, eu tinha a impressão
de que eles davam descrições exageradamente difíceis da relação pedagógica. Eles insistiam
muito sobre as dificuldades da profissão, a impossibilidade de trabalhar, a queda de nível dos alunos,
etc. E eu me perguntava se não era um tipo de encenação um pouco dramática do seu trabalho.
A segunda razão é que, durante uma intervenção sociológica com um grupo de professores, encontrei
duas professoras com uma resistência muito grande ao tipo de análise que eu propunha. Elas  deixaram o grupo. Uma delas escreveu uma carta em que me criticava particularmente por não ter lecionado, de ser um “intelectual”, de ter uma imagem abstrata dos problemas. Foi um pouco por desafio que eu quis dar aulas para ver do que se tratava.
Devo dizer que esta experiência não era nada central para mim já que não era o coração do meu
trabalho de pesquisa; nunca imaginei seriamente escrever um livro sobre a minha experiência de professor. Assumi uma classe de
Podemos dizer muitas coisas sobre esta experiência. Logo, me dei conta de que a “observação participante” era um absurdo. Durante duas semanas, tentei ficar observando, isto é, ver a mim mesmo dando aula. Mas após duas semanas, estava completamente envolvido com o meu papel e eu não era de maneira algum um sociológo, embora tivesse me esforçado para manter um diário de umas cinquenta páginas no qual redigi minhas impressões. Entretanto, não acredito que se possa fazer pesquisa se colocando no lugar dos atores; eu acho que é um sentimentalismo sociológico que não é sério ou que supõe muitas outras qualidades diferentes das minhas. Contudo, eu fiz este trabalho em boas condições pois fui muito bem acolhido pela grande maioria dos professores que ficaram bastante sensibilizados pelo fato de eu ir dar aulas e tive realmente muito apoio, muita simpatia (...) Aliás, não é preciso esconder que o fato de ser um homem no meio de mulheres pode também ajudar. Era um clima bastante agradável.troisième (3º ginasial) e que o menino tivesse 1,80 m e pesasse 75 kilos, eu estaria com problemas. Ou se eu fosse uma jovem professora de 22 anos, não sei como teria reagido.Você disse que fez um “golpe de estado”.?

Depois de dois meses, eu estava um pouco desesperado: eu não conseguia nunca dar a aula. E então
um dia, fiz um “golpe de estado” na sala. Disse aos alunos: de hoje em diante não quero mais
ouvir ninguém falar, não quero mais ouvir ninguém rir, não quero mais agitação. Aliás, não era bagunça, era agitação. Eu disse: vocês vão colocar as suas cadernetas de correspondência, a caderneta em que se colocam as punições, no canto da mesa, e o primeiro que falar, eu escrevo a seus pais, e ele terá duas horas de castigo. E durante uma semana foi o terror, eu puni. De fato, facilitou a minha vida e tenho a impressão de que esta “crise”deu aos alunos um sentimento de segurança, já que eles sabiam que havia regras, eles sabiam que nem tudo era permitido.
Depois, as relações se tornaram bastante boas com os alunos e bastante afetuosas. É preciso
reter desta história extremamente banal que o fato de ser sociológo pode permitir explicar o que acontece, mas não de antecipar melhor que a maioria das pessoas.


A minha primeira surpresa, e que é fundamental, corresponde ao que os professores dizem nas
suas entrevistas. Os alunos não estão “naturalmente” dispostos a fazer o papel de aluno. Dito de outra forma, para começar, a situação escolar é definida pelos alunos como uma situação, não de hostilidade, mas de resistência ao professor. Isto significa que eles não escutam e nem trabalham espontâneamente, eles se aborrecem ou fazem outra coisa. Lá, na primeira aula, os alunos me testaram, eles queriam saber o que eu valia. Começaram então a conversar, a rir (...) Um aluno, um menino que estava no fundo da sala, fazia tanto barulho que eu pedi para ele vir se sentar na frente. Ele se recusou. Fui buscá-lo, o levantei e o trouxe para frente. Ele gritava: “Ele vai quebrar meu ombro!” Bom, finalmente, depois de dez minutos, houve um contato (...) fiquei muito contente que o menino tivesse 13 anos, pois se tivesse pego uma classe de
A minha segunda surpresa: é preciso ocupar constantemente os alunos.Não são alunos capazes
de fingir que estão ouvindo, sonhando com outra coisa e não fazer barulho. Se você não os ocupa com alguma coisa, eles falam. É extremamente cansativo dar a aula já que é necessário a toda hora dar tarefas, seduzir, ameaçar, falar (...) Por exemplo, quando a gente fala “peguem os seus cadernos”, são cinco minutos de bagunça porque eles vão deixar cair suas pastas, alguns terão esquecido seus cadernos, outros não terão lápis. Aprendi que para uma aula que dura uma hora, só se aproveitam uns vinte minutos, o resto do tempo serve para “botar ordem”, para dar orientações. Tive muitas dificuldades.
Por exemplo, não sabia como contar histórias e fazer com que os alunos escrevessem ao mesmo tempo. (...)

cinquième, 2º ginasial (que começa após os cinco anos de escola elementar), com crianças de 13/14 anos, em um colégio popular, bastante difícil em que o nível dos alunos é baixo e dei aulas durante um ano. Portanto, da volta às aulas em setembro até o mês de junho, quatro  horas por semana, ao lado de minhas atividades de acadêmico, de chefe de departamento, me esforcei para ser um professor razoável. Ensinei história e geografia já que são disciplinas que me interessavam e que não requeriam uma formação específica como o inglês ou as matemáticas, pelo menos no nível escolar em que eu trabalhava.
Como acaba se construindo uma relação com os alunos?

Sem me dar muito conta disso, os alunos eram sensíveis ao fato de eu me interessar por eles como
pessoas, isto significa que eu falo com eles, que eu me lembro de suas notas, de suas histórias (...) No
fim do ano, eles gostavam muito de mim. Me deram presentes. Fizeram uma festa quando eu fui
embora. Enfim, eles me suportavam. E eu também. Era uma relação muito complicada já que era ao
mesmo tempo afetivo, muito disciplinar e muito rígido. Com os alunos, digamos que eu tive o sentimento que começava a aprender pouco a pouco a dar aulas.
Quando olho para os meus colegas, havia muitos deles que eram muito fortes, que davam boas
aulas. Havia outros que visivelmente, não conseguiam. O que mais me chamou a atenção, foi o clima
de receio para com os alunos na sala dos professores. Isto quer dizer que alguns professores tinham
medo antes de entrar na sala. Não era um colégio violento. Não havia agressões, não havia insultos
mas era obviamente uma provação; como fazê-los trabalhar, como fazer com que ouçam, como fazer
com que não façam barulho? Esta é a dificuldade, não é a violencia.
Mas numa sala de professores, nunca se fala disso, todo o mundo parece ser um bom professor.
Mesmo que a gente visse colegas chorando, ou outros que nunca vinham, que passavam pelo corredor. No final das contas, achei que a descrição que os professores entrevistados faziam na pesquisa era bastante correta. Realmente, a relação escolar é
quando não funciona, a gente se desespera. Eu vivi muito dificilmente este ano, aliás, no Natal queria parar.

a priori desregulada. Cada vez que se entra na sala, é preciso reconstruir a relação: com este tipo de alunos, ela nunca se torna rotina. É cansativa. Cada vez, é preciso lembrar as regras do jogo; cada vez, é preciso reinteressá-los, cada vez, é preciso ameaçar, cada vez, é preciso recompensar (...) A gente tem o sentimento de que os alunos não querem jogar o jogo e é muito difícil porque significa subtemer à prova suas personalidades. Se eu falo de charme, de sedução, não é por narcisismo, é de fato o que a gente realmente experimenta. É uma experiência  muito positiva quando funciona, a gente fica contente;
O que este “golpe de estado” mudou fundamentalmente?

Para mim foi muito negativo porque a gente se sente reduzido a expedientes. Fiz reinar o terror
durante algumas semanas e depois relaxei. Mas eles sabiam que todos os meses, eu teria recomeçado. No fundo eu estava persuadido, como professor universitário, que a gente podia jogar com a sedução intelectual. Falando bem e sabendo mais coisas do que eles, eu achava que podia seduzí-los intelectualmente. Nenhum efeito. Foi preciso mobilizar muitos registros, sedução pessoal, ameaças, disciplina, que eu desconhecia completamente, que nunca havia usado na minha vida universitária. Mas é uma história fracamente controlada. Isto significa que a gente não consegue observar e dar aula ao mesmo tempo. A gente dá aula e só faz isso. Depois de alguns anos, talvez se tenha experiência suficiente para ver as coisas e fazê-las ao mesmo tempo mas, neste ano, me comportei como um iniciante. O “golpe de estado” é um fracasso pedagógico e moral, mas permitiu fixar uma ordem bastante estúpida a partir da qual a gente pode tentar controlar uma relação pouco regulada. De fato, no colégio, é preciso trabalhar na transformação dos adolescentes em alunos quando eles não têm vontade de se tornar alunos. Podemos fazer outras observações muito banais sobre a heterogeneidade das classes. Estamos lidando com alunos extraordinariamente diferentes em termos de performances escolares. Somos obrigados a dar aula a um aluno teórico, um aluno médio
que não existe, tendo de certa forma o sentimento de que vamos deixar um pouco de lado os bons
pelos seus problemas de adolescentes e a comunidade dos alunos é “por natureza” hostil ao
mundo dos adultos, hostil aos professores. Eles podem encontrar um professor simpático, eles podem
encontrar um professor interessante, mas de qualquer forma, eles não entram completamente no jogo. Eles permanecem nos seus problemas de adolescência, de amor, de amizade e o professor fica
sempre um pouco frustrado porque, mesmo se os alunos queiram, individualmente, estabelecer relações com os professores, coletivamente, eles não querem tê-las.
Eis um pouco do que eu observei e devo dizer que isto correspondia exatamente ao que diziam os
professores nas entrevistas individuais ou coletivas. Eles não exageram. É realmente uma situação em que a gente tem grandes dificuldades para conquistar os alunos. É um trabalho que se recomeça a cada dia embora, repito, não se trate de alunos malvados, agressivos, racistas, mas antes alunos fracos em geral.
 La galère: jeunes en survie. Paris: Fayard, 1987; Les lycéens
alunos, porque existem, e que vamos deixar de lado os maus alunos. Outra coisa que me chamou a atenção, são alunos que, depois de dois meses, “entraram em greve”, alunos que nada fizeram. Tiravam zero em  todas as provas, não faziam nada, eram muito gentis mas tinham decidido que não trabalhariam. É completamente desesperador: no início eu os puni e no fim não os punia mais, já não adiantava, tê-los-ia punido todos os dias. Os alunos são adolescentes completamente tomados

O que é que você achou dos programas escolares?

É uma das coisas mais espantosas. O programa é feito para um aluno que não existe. Digamos
mais simplesmente que é feito para um aluno extremamente inteligente. É feito para um aluno cujo
pai e cuja mãe são pelo menos professores de filosofia e de história. É feito para uma turma que trabalha incessantemente. O programa é de uma ambição considerável e não se pode realizá-lo materialmente. O programa é também uma grande abstração, até em história e em geografia. Por exemplo, não há cronologia, é uma história de sociólogos, não é uma história que conta histórias. Por isto, fiz como todos os meus colegas, daí a metade do programa e contei a história, mas nada do que pediram que eu fizesse. Até porque as pessoas acham que os alunos que cumpriram este programa adquiriram completamente os dos anos anteriores. Procura-se então outros meios, mas é muito demorado. Eu os levei para ver um filme sobre a Idade Média na televisão: O Nome da Rosa. Assistir ao filme levou quatro horas porque era preciso explicar as palavras: a palavra inquisição, a palavra ordem religiosa (...) Eu diria que este sentimento de absurdo da situação pedagógica é reforçado pelo fato dos programas se dirigirem para alunos abstratos, alunos que não existem, enquanto que, quando eu estava em cinquième (segundo ginasial), com a mesma idade deles, tinha programas infantis, programas muitos simples. A gente experimenta um descompasso entre os programas e os alunos. Isto faz com que o trabalho do professor seja muito cansativo com o tempo e entretanto, muitos professores o fazem muito bem, apesar de tudo. Mas muitos jogam a toalha. Isto significa que eles fingem dar aula para alunos que fingem ouvir. Entretanto, os alunos parecem sensíveis ao fato de que a gente quer vê-los bem sucedidos.
Gostaria de apontar duas outras dificuldades. A primeira tem a ver com a extrema brutalidade da seleção. Os conselhos de classe são cansativos porque na verdade, a gente decide o destino dos alunos em alguns minutos. A segunda coisa é a manutenção de uma ficção sobre os alunos. De certa forma, por estarmos numa sociedade democrática, a gente considera que todos os alunos têm o mesmo valor, que eles são iguais. Ao mesmo tempo, eles têm obviamente performances desiguais. Porém, a gente sempre lhes explica que se eles não obtiverem bons resultados é porque não trabalham bastante, e na realidade, isso nem sempre é verdadeiro. É por eles terem dificuldades de outra ordem, porque isto não interessa para eles (...) Nunca se lhes dá realmente os meios de compreender o que lhes acontece.
Só se diz para eles: se você trabalhar mais, terá melhores resultados. Mas eles sabem que isto nem
sempre é verdadeiro; há, então, um tipo de ficção no julgamento escolar que faz com que nunca se
permita aos alunos suas própria explicações ou que  tomem realmente em mãos as suas próprias dificuldades. É o preço de um sistema que é ao mesmo tempo democrático, quer dizer, um sistema em que todo mundo é igual e meritocrático, isto é, que ordena os valores.
(Reprodução Parcial)















Assim, muitos alunos são extremamente infelizes na escola, sentem-se humilhados, magoados.
Eu tenho a imagem de uma relação bastante dura que é compensada por toda a sua vida juvenil, por
suas brincadeiras, por seus amigos. Mas para muitos alunos, a situação escolar não tem nenhum sentido.
E é portanto vivida como uma pura violência, não uma violência simbólica de classe como diz Bourdieu, mas uma violência individual pedagógica, de relacional.