terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Texto Manoel Soares no Facebook hoje 10/01/2012

Com sua delicadeza e objetividade Manoel conseguiu de forma transparente e simples descrever o que
acontece nas nossas periferias.
Abaixo o lindo texto publicado por ele no facebook hoje dia 10/01/2012.


Manoel Soares


Estes dias conversando com um líder comunitário vi que ele defendia os interesses da comunidade com muita habilidade, mas seu sustento vinha de ser flanelinha um uma avenida movimentada de Porto Alegre. Quando fui conversar com ele falei sobre a possibilidade ajudá-lo nessa luta, ele se empolgou e disse que as pessoas só prometem e na hora não se apresentam. Disse que ia ver com uma rede de colég...ios particulares que trabalham com EJA para que ele volte a estudar e depois possa fazer um técnico administrativo, nessa hora ele deu um pulo, disse que não queria voltar para escola e que tinha dificuldades de se enquadrar no sistema. Disse que ele falava errado, mas que isso era seu dialeto, disse que o que importava era sua mensagem e não se o português estava certo, no meio do papo vem a filha dele com a gorjeta dada por um motorista. Confesso a vocês que me vi naquele líder, há uns anos atrás eu pensava assim, achava que minha experiência de vida era mais importante que minha formação. O que muitos líderes não se dão conta com o tempo é que sem saber assinam um pacto de pobreza e miséria que só trás dor e tristeza para eles e suas famílias. Ter dinheiro não é errado nem feio, estudar e se formar não vai arrancar nossas raízes e se arrancar é porque não era raízes, mas galhos podres. Sei que muitos líderes mesmo sem estudo dão um banho em quem tem canudo, mas no fim das contas eles voltam para sua casa com ar condicionado e cama quentinha e nós para nossa casa com luz de gato e gás quase no fim. O estudo não limita nosso intelecto, mas limita nosso acesso a uma vida de qualidade, como líderes familiares ou comunitários não temos o direito de exilar as pessoas ao nosso lado na miséria por conta de nossa visão equivocada da vida. Ver amigos destemidos liderar massas é emocionante, mas cada vez que eles fala: "menas", "qui seji", "nois" sem que queiram emitem uma mensagem que enfraquece a luta, sei que doi ler isso, mas é verdade. Temos que nos superar todos os dias, até porque o que fizeram e fazem conosco é injusto, nos deram pouco acesso e exigem qualidade, é como cortar o pé de alguém e querer que ele corra, mas não podemos nos apegar as limitações, temos o dever de criar condições para que as gerações futuras saiam do ciclo de exclusão, mas para isso teremos que abandonar a lamúria e superar não algumas, mas todas dificuldades que aparecem. Conheço cada minuto dessa luta, sento o gosto de cada lágrima ao ouvir um NÃO, vivo isso até hoje, pois mesmo que de ouro o chicote doi igual, mas não uso minhas limitações para advogar em causa própria, meu filho não merece opuvir isso.